segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Monumental

Vasco e Real Madrid, final do Mundial Interclubes, Tóquio. Aos dez do segundo tempo Luizão chuta cruzado de dentro da área, da esquerda, o goleiro defende e a bola sobe que nem balão pra descair lá do outro lado, na quina da grande área. Juninho espera ela descer, no tempo dela, e domina uns dois centímetros antes do quique, e no que domina, no mesmo único toque, mete entre as pernas de um volante argentino chamado Redondo, que chegava junto na marcação. No que mete entre as pernas do Redondo, o Juninho bota na frente, sai dele e, já dentro da área, no segundo toque, mete a trivela no ângulo do goleiro Ilgner, titular da Alemanha campeã do Mundo em noventa. 

Gol do Vasco. Golaço, e mais um de Juninho, mais um do cara do Monumental, do Mineirão, de Lyon e de São Januário, que encerrou oficialmente a carreira ontem, considerado por muitos, entre outras virtudes e títulos, como o maior batedor de faltas de todos os tempos. Entre elas, graças a Deus, a mais importante da história do muy amado Club de Regatas Vasco da Gama, o petardo da intermediária que subiu pouco, só pra enganar o goleiro e morrer estufando a redinha vermelho e branca de nossos velhos fregueses, desde quarenta e oito. Outro golaço, simplesmente monumental.

E como podia um torcedor abnegado, sempre presente, mais dos quinze aos vinte e tanto, nem tanto aos trinta, e de novo toda hora lá, na social de São Janu, depois dos trinta e nove, quando o Juninho voltou ao Vasco, como podia esse torcedor abnegado nunca ter presenciado um gol de falta do melhor batedor do mundo? Pois não tinha mesmo, jamais, ele que se lembra do primeiro gol do cara pelo time, na tevê de vinte polegadas, ao vivo.

Cinco a três no Santos em plena Vila Belmiro e o dele, se não falha a memória, foi o quarto, da quina da área de novo mas da esquerda, e de fora dela. Um toque de chapa tirando do goleiro, na costura lateral da rede, e depois ele ainda demorou pra se firmar como titular. Oscilou dois anos e foi campeão brasileiro, e continuou oscilando entre o banco e o time titular até o gol monumental, num jogo em que, aliás, ele tinha começado no banco.

Depois veio a Rio-São Paulo, com Maraca lotado nas semis e finais e ele regendo a massa, fazendo o time jogar e ainda metendo gol como, inclusive, o do título, que não foi de bola parada. Uma arrancada no fim do jogo, da intermediária até dentro da área e o chute no alto. Dois a um em cima do Santos, de novo o Santos, mas dessa vez no Morumbi.

E no ano dois mil, na virada do milênio, a virada inacreditável na Mercosul, as três porradas no peito e o primeiro gol na final do Brasileiro, tudo de primeira, todos com o SBT na camisa, no dia do aniversário do torcedor abnegado que, lógico, estava lá no Maraca, atrás do gol, vendo o Juninho Paulista tocar pro Romário e o Romário só ajeitar pra trás, de leve, de primeira, pro chute também de primeira do Juninho Pernambucano, no ângulo de novo, e Pernambucano por causa do Paulista, que também fez história no Vasco como, entre outros títulos e virtudes, o melhor em campo na maior virada da história do futebol.

Aí o Juninho, o Pernambucano, saiu. Foi pra França ser heptacampeão francês em oito anos pra depois voltar pra casa, e se não fossem as arbitragens de sempre faria história mais uma vez como campeão brasileiro. Saiu de novo um ano depois pra voltar pro encerramento, no ano passado, e nesse jogo da volta estava lá na social de São Januário o torcedor abnegado, aos quarenta e um, e aos oito do primeiro tempo o Juninho ajeitava a bola pra uma falta da intermediária no gol do milésimo, de cara pra estátua do Baixinho.

O chute foi forte mas no meio do gol e à meia altura. Só que a bola quicou na pequena área e desviou do coitado do goleiro. Mais frango que golaço, sim, mas gol, gol de falta do maior batedor de faltas do mundo de todos os tempos, in loco, no estádio, e o torcedor abnegado pode, enfim, comemorar mais essa, e uns meses depois celebrar mais ainda, quando ficou estabelecido, para todo o sempre, que aquele gol de falta contra o glorioso Criciúma tinha sido não só o último de falta como o derradeiro entre todos os trezentos e quarenta e cinco marcados pelo cara do Monumental, do Mineirão, de Lyon, de São Januário...

...E de Tóquio, sim, e foda-se a derrota, até porque já temos uma vitória muito mais importante contra o maior Real de todos os tempos, penta europeu, com Di Stefano (outro freguês, desde quarenta e oito) etc., que além de tudo foi o primeiro título do futebol sul-americano em solo europeu, o primeiro Torneio de Paris, e sem Bellini, que jogava um torneio no Maraca ao lado de Pelé, que fazia seus primeiros gols no maior estádio do mundo com a camisa do Vasco, aos dezessete anos...

Parabéns ao Juninho, e um muito obrigado por tudo, principalmente pelo gol mais importante dessa história toda, junto com a cabeçada do Friaça contra o Colo Colo, que garantiu a vantagem do empate contra o River Plate e, com isso, o primeiro título continental da história do futebol, para todo o sempre, e tome história e viva o Vasco e viva Juninho, o Pernambucano, mas também o Paulista, o Mauro Galvão, o Odvan, o Orlando Peçanha, o Orlando Lelé, o Mingote, o Domingos da Guia, o Leônidas da Silva, o Ademir de Menezes, o Heleno de Frias, o Lelé, o Barbosa, o Eli, o Rafagnelli, o Chico, o Maneca, o Jaguaré, o Fausto, o Zé do Carmo, o Jorge, o Marco Aurélio, o Bismarck, o Mazaropi, o Zé Mário, o Abel, o Ipojucã, o Danilo, o Jorginho Carvoeiro, o Acácio, o Donato, o Augusto, o Moisés, o Oitenta e Quatro, o Fontana, o Mola, o Brito, o Isaías, o Arlindo, o Andrada, o Fernando (barbudo), o Bolão, o Sorato, o Nelson, o Alcir, o Mazinho...

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